Crítica: "A TEIA" é pura adrenalina, mas peca pela romantização dos fatos - Portal Overtube

Crítica: “A TEIA” é pura adrenalina, mas peca pela romantização dos fatos

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Trabalhando com clichês que dão certo, mais uma teia surge na televisão brasileira. Desta vez, através dos fatos que rondam a vida tortuosa de Marco Aurélio Baroni (Paulo Vilhena), ex-universitário de classe média alta que decide deixar as aulas do curso de Engenharia pela emoção do mundo do crime. Inspirada na história de Marcelo Borelli, culpado de inúmeros crimes de roubo e assassinato, incluindo a tortura de uma criança de três anos, a minissérie parece enveredar por caminhos muito mais suaves.

O primeiro capítulo já deixa claro que a abordagem que será trabalha no decorrer da produção: a junção de violência, romance e pitadas de cenas familiares enternecedoras. Já nas cenas iniciais temos Baroni dando dicas de direção à namorada Celeste (Andreia Horta), enquanto trava um diálogo com a filha da moça, que está sentada no banco traseiro. A cena familiar é permeada por detalhes que entregam a vida clandestina de Marco, como um olhar pelo retrovisor a um comparsa furtivo, e frases que se pretendem enigmáticas.

O ponto de convergência entre “realidade” e ficção é muito tênue neste primeiro episódio de A Teia. Provavelmente a única semelhança com a trajetória real é o roubo de 60 quilos de ouro de um avião cargueiro, deslanchando a partir daí para tramas secundárias que darão consistência aos demais personagens.

A impressão que fica do episódio piloto é que houve uma fortíssima inspiração nas séries policiais norte-americanas, percebida nas perseguições arrojadas, expressões e palavras ditas em inglês e mesmo na trilha sonora, que traz clássicos dos Rolling Stones como Sweet Virginia e You Can’t Always Get What You Want. Entretanto, nem todas estas boas músicas conseguem esconder o fato de que os diálogos são ruins e volta e meia descambam para um sentimentalismo meio forçado, chegando-se àquele ponto onde a ficção falha em fazer o espectador solidarizar-se com o bandido.

Ao delegado Jorge Macedo (João Miguel) deve-se a formulação de um personagem clichê, mas convincente, , contrafigura de Baroni por excelência. O ator João Miguel o interpreta com uma fluidez de cinema, e parece confortável no papel de um detetive que teve sua credibilidade perdida ao fazer movimentos errados no passado – sendo que os únicos indícios do que aconteceu aparecem apenas em recortes de jornais nas mãos de outros personagens. Sua atuação empalidece a de Vilhena, que, ao menos neste primeiro capítulo, não surpreende particularmente em nenhum momento.

O roteiro assinado por Braulio Mantovani e Carolina Kotscho traz uma realidade floreada, que apela basicamente à criação da empatia entre espectador e personagem, fazendo o primeiro desculpar o segundo já de antemão pelo que ele fará no futuro. Malabarismo perigoso, ainda mais quando se trata de histórias com resquícios de realidade.

Excetuando-se os palavrões em abundância, e algumas cenas dignas de produções cinematográficas – como aquela em que Macedo procura pistas no chão do interior de um helicóptero, ou as cenas “cartão-postal” das paisagens brasileiras -, a minissérie tem um formato muito semelhante ao de uma telenovela, com direito a romance, intrigas e à figura de uma garotinha que infelizmente está destinada a sofrer em meio a tanto banditismo.

(Cinthia Torres)

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Philippe Azevedo
Escreve sobre televisão e famosos desde 2008
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