
Portal Overtube – O Rebu não é uma telenovela tradicional. A estreia de ontem (segunda-feira, 14) deixou isso muito claro. O roteiro de George Moura e Sérgio Goldenberg – mesma dupla da aclamada série Amores Roubados – desliga-se da cartilha básica do folhetim e passeia livremente pelo universo do suspense, numa aproximação maior com o cinema que com a própria linguagem televisiva. Uma ousadia interessante, mas que pode ser uma faca de dois gumes no que diz respeito à repercussão do programa junto à audiência.
O grande mérito da adaptação está em inovar bastante sobre a obra original – escrita por Bráulio Pedroso em 1975 – e ao mesmo tempo ostentar diversas referências à mesma. A protagonista Angela Mahler, vivida por uma Patrícia Pillar segura e imersa no papel, insinua logo em seus primeiros takes em cena uma possível atração homossexual – alusão à motivação do crime na história de Pedroso, onde Conrad Mahler (Ziembinski) matava a amante de seu “sobrinho postiço” Cauê (Buza Ferraz) por ciúmes do rapaz. A narrativa não-linear é outra característica original que permanece intacta no remake, e que curiosamente, mais de 40 anos depois, permanece tão inovadora e ousada nos padrões da TV quanto o era naquele tempo.
Patrícia Pillar transmite com maestria toda a aura de mistério que envolve a personagem até agora, a qual deverá ser pouco a pouco desmitificada na trama. O principal destaque do elenco deste primeiro capítulo, porém, ficou por conta de Sophie Charlotte. Ela simplesmente brilhou a cada cena de Duda, expressando todo o desespero da personagem diante da morte do amado, Bruno (Daniel de Oliveira). Cássia Kis Magro (Gilda), José de Abreu (Bernardo) e o sempre competente Tony Ramos (Carlos) também vêm com cara de que vão roubar a cena.
A fotografia escurecida, quase preta-e-branca, é outro diferencial, mas não por isso um atrativo. Algumas externas e internas noturnas viam-se tão escuras que mal permitiam enxergar os atores e os cenários. Puro cinema noir dos anos 1940, e perfeitamente condizente com a proposta de O Rebu, é verdade. Mas tal característica, aliada à forte carga de drama e mistério que impregnaram os acontecimentos iniciais da história, pode se tornar um tanto deprimente aos olhos do grande público, acostumado a folhetins mais “equilibrados”, por exemplo, com uma dose de humor e fantasia que alivie o lado mais denso dos enredos.
Fica a sugestão pertinente a George Moura, roteirista que, mesmo estando entre os mais respeitados e admirados do país, ainda é inexperiente na arte industrial de se fazer telenovelas.